Como Tatuagem - Walter Tierno
25/11/2016
Olá queridos
leitores? Como vai o fim de ano de vocês?
Espero que estejam lendo bastante. Hoje eu trouxe a resenha de um livro maravilhoso, é um romance, mas sinceramente, eu nunca vi livro para tratar de temas da atualidade tão bem quanto esse tratou. E de uma forma verdadeira, sem idealizações ou eufemismos quando o assunto é sério. Essa história, do Artur e da Lúcia, me encantou desde que montei a postagem de lançamento, e com certeza vale a pena dividir com vocês uma literatura tão boa quanto essa. Então, se liga na resenha:
Espero que estejam lendo bastante. Hoje eu trouxe a resenha de um livro maravilhoso, é um romance, mas sinceramente, eu nunca vi livro para tratar de temas da atualidade tão bem quanto esse tratou. E de uma forma verdadeira, sem idealizações ou eufemismos quando o assunto é sério. Essa história, do Artur e da Lúcia, me encantou desde que montei a postagem de lançamento, e com certeza vale a pena dividir com vocês uma literatura tão boa quanto essa. Então, se liga na resenha:
"Artur é um cara rico, superficial e egoÃsta.
Bonito e popular entre as mulheres, não tem o menor respeito por elas — sua
vida amorosa se resume a colecionar parceiras na cama. Essa rotina de prazeres
e privilégios é interrompida quando ele sofre um grave acidente de carro. Para
ajudá-lo a se recuperar, sua mãe contrata a fisioterapeuta Lúcia. Desde
criança, Lúcia sofre o preconceito que persegue os portadores de vitiligo. Sua
mãe sempre esteve presente para apoiá-la e fazê-la enfrentar os obstáculos que
a vida lhe impõe. De temperamento doce, porém decidido, Lúcia tem uma
consciência peculiar e aguda sobre o mundo. Mas, quando se vê sem o amparo
materno, suas certezas desabam. O encontro de duas pessoas tão diferentes vai
gerar muito atrito, mas com o tempo Lúcia e Artur vão descobrir algumas das
infinitas facetas do amor e, entre conquistas, medos, perdas e paixões, verão
suas vidas transformadas para sempre."
Artur é sim, o cara
egoÃsta da sinopse acima. Mas ele não é só egoÃsta, isso é tipo um elogio para
ele. O Artur te faz ter ódio dele, te faz querer arremessar o livro bem longe
de tanta raiva que ele faz. No inÃcio da história você se perde um pouco, porque
ele narra contando o passado, só que volta ao presente e depois começa a falar
do passado de novo, mas com o passar das páginas você se adapta. Artur é o tipo
de cara bonito, rico, ignorante, machista e in-su-por-tá-vel. Gente é sério,
sem exageros. Ele luta Taekowndo, é o que ele realmente gosta de fazer. Além,
claro, de tratar as mulheres como lixo. A vida dele é: Taekowndo, faculdade (as
vezes), mulheres... E por aà vai.
Num dia que era para ser como qualquer outro
em sua vida, ele sai do treino e vai para a faculdade, só que não para estudar,
só passa lá para pegar a Cris (que do começo ao fim do livro ninguém sabe se é
Cristina ou Cristiane) e levar para "jantar" tudo fachada para ele.
Artur enxerga não só a Cris como todas as outras mulheres como uma raça
inferior feita para uso exclusivo dos homens. Pois é, eu sei, é muito mais que
preconceituoso, não há palavras para descrever. E neste dia, ele manda a garota
embora no meio da madrugada por pura ignorância, atitude de pessoas infelizes
que precisam rebaixar os outros, e ainda joga uma nota de cinquenta reais em cima da Cris para ela ir de táxi às 03:00. foi um
insulto não só à personagem, mas acho que a todas as mulheres. (só até aqui já
deu para ver como o livro trata de temas atuai não é mesmo?) Bom, acontece que
na manhã seguinte, o Artur sai para levar a mãe
em Santos, ele sai atrasado, muito rápido, acelera demais, dirigi sem
responsabilidade nenhuma, é ignorante e tosco até no transito, e isso resulta
num acidente, o acidente que mudou a vida dele completamente. Agora Artur é um
cadeirante que teve que amputar as duas pernas acima do joelho. Como ele lida isso?
"[...] -O QUE ACONTECEU?
-As pernas, Artur. Esmagou. Não teve jeito. - Meu pai tenta explicar, mas a luta para não chorar exige muito dele, e engasga.
-Não fode!- Minha voz enfraquecida pelo grito. - Eu tô sentindo minhas pernas. Olha aÃ. Tô mexendo o dedão.
Apoiado nos cotovelos, levanto a cabeça para olhar para o dedão que mexe.
Não o vejo. Ele se mexe, mas não tá lá. [...]"
O livro é narrado
ora por ele e ora pela Lúcia, que é beeeem diferente dele. Ela é um amor de
pessoa, mora com a mãe a quem tem costume de chamar de Mamuska. A Lúcia (por incrÃvel que pareça) é
fisioterapeuta, trabalha numa clÃnica renomada onde é amiga de todos. Vez ou
outra (infelizmente quase sempre) sofre preconceito por causa do vitiligo. Os
pacientes que fazem fisioterapia na piscina não gostam muito da companhia dela
por achar que é algo contagioso. Um enorme preconceito existente na nossa
sociedade, mas muitas vezes esquecido.
Essa é uma moça
linda com vitiligo, que são esses desenhos descoloridos no rosto, ou em
qualquer outra parte do corpo.
A Lúcia vive se
escondendo atrás de quilos e mais quilos de maquiagem. Desde os oito anos, que
foi quando começaram a aparecer as manchinhas. Como acontece com todas as
pessoas que são diferentes, ela sofreu preconceito desde a escola e ainda sofre
nos dias atuais. Sua mãe é sua fonte de energia para enfrentar tudo isso, é seu
porto seguro. E se tem uma coisa que posso dizer sobre a Mamuska da Lúcia, é
que essa mulher quebra tabus. Gente, ela participa bem pouquinho do livro, mas
ensina tanta coisa. Se você for preconceituoso(a) já se prepare para as
tiradas que vai levar dessa mulher. Bom, como eu disse ela participa pouquinho.
Lúcia recebe a ligação da Lourdes, melhor amiga de sua mãe e volta para casa já
sabendo que não encontrará mais a mãezinha viva. O autor foi muito sincero, não
só neste momento de luto da personagem, mas em todo o livro. A Lúcia vive o
luto de verdade, você consegue se imaginar no lugar dela, sentir a tristeza que
é, a honestidade da escrita demonstra os sentimentos crus, como realmente são,
sem fantasias ou romantização do sofrimento. Eu nunca tinha lido um livro do
Walter antes, mas com certeza vou procurar pelo nome dele depois dessa mega
história. Depois de viver seus dias sem cor intensamente, Lúcia volta para o
trabalho, porém depois de uma das
grandes clientes do lugar reclamar das manchas em sua pele, Sofia, sua
chefe e amiga oferece a ela um emprego no escritório, mas Lúcia se formou em
fisioterapia e é isso que ama fazer. Depois de muito pensar ela recusa e sai do
emprego. Lourdes, a amiga da sua agora falecida mãe, é enfermeira e acabou de
arrumar um emprego na casa de um pessoal rico, cujo filho perdeu as duas
pernas, e ela pergunta a Lúcia se não conhece algum fisioterapeuta para atender
em domicilio. Como ela acaba de perder o emprego...
Aà vocês já sabem
como ela e o Artur se conhecem, não é?
Pois é... Só que:
"[...] Desde a primeira vez que ouvi o nome dele, dito pela Lourdes, ontem, tive uma sensação de familiaridade.
Quando entro no quarto, descubro o porquê."
É demais, eu sei.
Mas para saber o que aconteceu, e descobrir o passado em comum deles, eu
garanto que vocês vão ter que ler, porque eu não vou contar. ~ No Spoilers ~
A partir do momento
em que eles se reencontram, Artur não se lembra de Lúcia, mas ela se lembra
dele. Porém ela é profissional, claro, e passado fica no passado. Ela está
acostumada aos pacientes que acabaram de perder as pernas, ou com qualquer
outro tipo de deficiência, portanto sabe quais reações eles esboçam. Uma coisa
muito interessante sobre o livro, é a quantidade enorme de informações que ele
contém. É como se você pudesse, por um momento saber como é que funciona a
massagem que destrói as "pernas fantasmas", que seria a sensação de
ainda ter as pernas que não tem mais. A narrativa foi muito bem construÃda e o
enredo também. A gente vai acompanhando as mudanças, a aceitação do Artur, e até conhecendo mais as personagens. Você
acaba descobrindo, que por trás do mostro que o Artur é, tem um bem pior que
fez ele ser quem ele era. O pai dele. O cara é ainda mais machista e sem noção
que o filho. No começo do livro você não entende o porquê de o Artur agir
daquela maneira rude, mas vamos descobrindo ao virar das páginas. Aquela
história do " Não julgue alguém, você não sabe o que ele passa" é
super verdade e muito bem retratada aqui.
Porém, a raiva
inicial da primeira impressão que ele passa, não some assim tão fácil, até
porque ele não facilita. Continua agindo como um idiota, bom... Até certo
ponto. O choque entre duas pessoas tão diferentes, desencadeia muitas coisas.
Neste caso, surge uma empatia entre os dois depois de muitos perÃodos de
diferenças gritantes, pois a Lúcia foi criada de maneira exemplar, longe de
preconceitos, livre de ideologias destrutivas e por uma mãe com a mente bem
aberta. Já o Artur, por um cara machista e preconceituoso. A amizade entre os
dois acaba trazendo benefÃcios mútuos, já que ela perdeu a mãe, (apesar de
estar num rolo com um ex-namorado, que aliás eu me perguntei o tempo todo que
tipos de problemas mentais a Lúcia tinha para ficar nessa com o Bruno - leiam e entendam-) e Artur sofreu uma perda
grande também, eles acabam encontrando apoio um no outro. Ele que antes era
relutante a fisioterapia, agora faz de bom grado e também faz bastante contente
o acompanhamento psicológico. Agora, a minha impressão dele, só foi mudar no
fim do capÃtulo 17. Sim, ele demorou 17 capÃtulos para me convencer de que não
era o cara sem escrúpulos e mau caráter do primeiro capÃtulo. Isso acontece no momento em que ele ao invés de participar de mais uma das brincadeiras machistas de seus amigos, resolve mostrar que isso é errado, e claro, ele acaba sendo taxado como idiota pelos "amigos". Essa mudança toda é desencadeada pela presença da Lúcia na vida dele, que toda vez que ela vê ou ouve algo idiota, preconceituoso ou errado, corrige ele, como aprendeu com a mãe dela.
*DETALHE
Uma coisa muito diferente e interessante na Lúcia, é que ela procura verbos para tudo.
Por exemplo:
Por exemplo:
" [...] - Eu pesadelei.
- Fez o quê?
- Pesadelei. Tive pesadelos. Eu pesadelo, tu pesadelas...[...]"
E ela faz isso quase sempre. É bastante interessante
Bom, ao longo de várias conversas e sessões de fisioterapia, os dois ficam mais amigos, conversam fora do horários, e em um encontro acabam se beijando. Mas Lúcia ainda está de rolo com Bruno. (Sério gente, tenho certeza que quando vocês lerem, vão se perguntar assim como eu, o que a Lúcia ta fazendo da vida com esse chato do Bruno, meu Deus??????) Mas, claro, ela acaba se resolvendo e começa a namorar o Artur. É um amor lindo de se ver, você vê onde começa, como começa e não é nada exagerado, é bem realista, só que existem alguns probleminhas, um deles é que Artur não está acostumado à vida independente que começa ao lado da nova namorada.
Ele nunca trabalhou, e agora está trabalhando, nunca morou sozinho (só ia para o apartamento quando queria ficar com alguma menina) e agora está morando, e nunca levou a faculdade a sério, mas agora está totalmente centrado. Ele acaba tendo uma necessidade de se encontrar primeiro, pois começou a namorar e ainda estava "perdido", a Lúcia foi mega importante nessa mudança, mas como dizem, é preciso estar bem consigo mesmo para depois construir uma relação estável com outra pessoa. é um pouco isso que acontece com esse casal, e quando se separam, vão seguindo suas vidas, como realmente acontece na nossa vida. O fator principal que uniu os dois, foi a Lourdes, que falei no inÃcio, a enfermeira que foi trabalhar na casa do Artur e levou a Lúcia com ela. Pois é ela mesma que reaproxima os dois novamente, só que de uma forma inconsciente, e um pouco triste. No intervalo de tempo que estão separados, Artur se acostuma com suas próteses, que aliás ele mesmo está pagando, e se encontra como pessoa, como homem, como ser humano, finalmente o Artur pode ser considerado um cara legal, e agora com o olhar mais maduro eles deixam a gente na expectativa do que está rolando na vida deles. (Bem que podia ter continuação, com casamento, filhos, mais brigas, e mais amor s2 s2)
Uma frase que resume totalmente o que Artur deve ter pensado quando decidiu que era melhor se separarem:
E acabou que foi assim mesmo que aconteceu com eles.
Eu gostaria muito de contar toda a história para vocês, mas é necessário deixar no ar algumas coisas para que a vontade de ler o livro cresça hahahah.
Este é o primeiro livro que leio do autor, e posso dizer que o tema central da história toda, é o preconceito. Todo tipo de preconceito. Acho que, tenta mostra como ainda nos dias de hoje, existe tanto preconceito com tudo que é diferente, uma coisa absurda pra uma sociedade tão "avançada". Vale muito a pena ler o livro e se divertir com essa história maravilhosa, que traz muito mais que suspiros, risadas, lágrimas e um pouco de raiva hahah, traz também informação, uma visão de mundo ampliada e muito conteúdo. Como eu cheguei a dizer no post de lançamento, a premissa lembra bastante 'Como eu era antes de você' mas, gente!!! O Artur não morre no fim!
Então gente linda, espero que tenham gostado. Obrigada a todos que leram até aqui, e tomara que vocês tenham a oportunidade de conhecer essa obra maravilhosa. A literatura brasileira ganhando espaço no nosso core!
Até a próxima pessoal!
Beijinhos!!!