Um homem revive seus dias de menino em busca de si mesmo. Uma histĂłria terna e emocionante de perdas, ganhos e aprendizados.
Dani se dedica a procurar crianças desaparecidas. No mesmo instante em que sua mulher faz as malas para ir embora de casa, ele recebe o telefonema de um pai desesperado lhe pedindo ajuda para encontrar seu filho. O caso o levarĂĄ a Capri, onde virĂŁo Ă tona lembranças de sua infĂąncia e das duas pessoas que mais o marcaram: o afetuoso sr. MartĂn e o forte George. O reencontro com o passado levarĂĄ Dani a profundas reflexĂ”es sobre sua vida, a histĂłria de amor com sua esposa e as coisas que realmente importam.
Se vocĂȘ me chamar eu largo tudo... mas por favor me chame Ă© um livro forte e ao mesmo tempo delicado, que vai permanecer com o leitor muito depois que ele virar a Ășltima pĂĄgina.
Quem me conhece sabe e quem me acompanha aqui no blog jĂĄ deve ter percebido o quanto eu sou apaixonada por tĂtulos grandes. Eu nĂŁo sei explicar quando isso começou e nem sei dizer o motivo. Acontece que tĂtulos grandes me chamam a atenção e normalmente eles jĂĄ bastam para merecer um cantinho na minha estante – e tambĂ©m aparecer por aqui. EntĂŁo, quando eu soube do lançamento de Se vocĂȘ me chamar eu largo tudo... mas por favor me chame, Ă© claro que ele entrou na lista e eu nĂŁo precisei de mais nada para solicitar ele para a leitura.
“E nĂŁo disse nada, porque, quando vocĂȘ passa anos aceitando que sua vida Ă© o que acontece com vocĂȘ e nĂŁo o que vocĂȘ cria... lamentavelmente acaba se acostumando.” (pĂĄg. 14)
NĂŁo li a sinopse, nĂŁo li nenhuma resenha e nem procurei por mais informaçÔes. Para mim, o tĂtulo bastou e foi o suficiente para embarcar na leitura. Ă claro que conhecer um pouquinho do Espinosa tambĂ©m fez a diferença. Esse Ă© o segundo livro que leio dele (o primeiro tem resenha aqui) e sim, mais uma vez nĂŁo me arrependi de ter escolhido um livro apenas pelo tĂtulo. Mais uma vez, fico feliz em poder dizer que li mais um livro do autor.
“- Antes cair que caminhar? - indaguei, curioso.
- Sim, assim perdi o medo das quedas. E, se vocĂȘ perde o medo das quedas, caminha melhor e pode atĂ© se atrever a correr. Tudo na vida deveria ser assim. Primeiro cair e depois caminhar.” (pĂĄg. 86)
Se vocĂȘ me chamar eu largo tudo... mas por favor me chame Ă© um livro que fala, principalmente pela busca de si mesmo. Dani (o narrador) encontra-se em um grande momento de sua vida... Sua esposa acabou de deixĂĄ-lo e ele resolve aceitar um trabalho que foge as suas regras, apenas para nĂŁo ficar em casa. Dani procura crianças desaparecidas e essa nova busca o leva novamente Ă ilha de Capri.
“Ă tĂŁo difĂcil compreender as lĂĄgrimas dos outros se vocĂȘ nĂŁo tem todos os dados...” (pĂĄg. 110)
Conforme ele vai narrando o momento em que se encontra, ele conta também suas lembranças e entre passado e presente vemos o quanto o encontro com algumas pessoas pode mudar toda uma vida, pode mudar o nosso destino. E é nisso tudo que a história gira... Em encontros, em desconhecidos que se tornam pérolas (ou diamantes) mesmo que no momento a gente não entenda exatamente isso, em fatos que acontecem com a gente e que marcam de forma a afetar todas as nossas decisÔes...
“Quem dera sempre tentĂĄssemos entender as pessoas antes de julgĂĄ-las. E quem dera as pessoas fossem capazes de ser honestas e nos contar sua vida para que pudĂ©ssemos valorizĂĄ-las com compreensĂŁo.” (pĂĄg. 111)
Sinto a necessidade de dizer que o livro nĂŁo Ă© para qualquer leitor. Quer dizer, se vocĂȘ espera uma histĂłria com inicio, meio e fim onde tudo Ă© linear e resolvido, vocĂȘ nĂŁo encontrarĂĄ isso aqui. Sim, o livro conta com uma linearidade – o caso da criança desaparecida Ă© resolvido mas esse parece nĂŁo ser o objetivo principal do livro. NĂŁo Ă© um livro sobre um investigador que encontra uma criança, Ă© um livro sobre um cara que estĂĄ perdido e procura se encontrar. E a busca de si mesmo Ă© algo verdadeiramente pessoal e de certa forma reticente, o que faz com que o livro pareça meio reticente. Uma das coisas que eu mais gostei no livro foi a quantidade de pensamentos profundos, de questĂ”es filosĂłficas e de momentos de reflexĂŁo. Eu adorei isso, mas pode ser que nem todo mundo que leia perceba os pontos que eu percebi ou se identifique com o estilo.
“Mas uma coisa era seu desejo, e outra, seu instinto... Custa ir contra o prĂłprio corpo...” (pĂĄg. 144)
Com grande delicadeza, Espinosa levanta assuntos fortes e te faz refletir sobre coisas que realmente importam em nosso caminho. Ă incrĂvel a poesia e as vĂĄrias metĂĄforas que se apresentam no livro, mais incrĂvel ainda Ă© pensar que cada leitor terĂĄ suas partes favoritas e nem todo leitor irĂĄ refletir e perceber a histĂłria do mesmo jeito. Se vocĂȘ me chamar eu largo tudo... ganhou meu coração por toda a sua subjetividade escondida no texto e mesmo depois de terminar a leitura, sei que muitas coisas irĂŁo seguir comigo por mais tempo. Ă um livro diferente, emocionante e marcante como muitas vezes sĂł a poesia consegue ser...