Diário de uma Cúmplice - Mila Wander

22/09/2016

Meu nome é Christine, ou pelo menos costumava ser. Professora numa escola infantil, eu levava uma vida bem normalzinha, meio sem graça, até que numa noite eu o vi. Começou com uma paquera descompromissada, daquelas que acontece quando você vê um cara gato do outro lado da rua. Ele me olhou, eu olhei pra ele e sorri. Esse joguinho de sedução poderia ter terminado num café, ou quem sabe em um namoro, se ele não tivesse se aproximado de mim e me apontado uma arma.
Não sei o que me deu para salvá-lo da polícia e abrigá-lo na minha casa. Burrice? Solidão? Não tinha a menor intenção de me tornar cúmplice de um criminoso. Mas seu olhar quente, sua fala mansa e sedutora me enlaçaram de tal forma que, de repente, eu me vi no meio de um turbilhão de acontecimentos. Agora, refém da paixão por aquele homem, só me restava relatar em um diário como fui me envolver mais de corpo do que de alma com a maior quadrilha do país.
"Preciso aprender a dar vazão aos meus sentimentos e não fingir que estou bem quando quero chorar, ou dar uma de conselheira quando o que preciso é de um conselho." (pág. 11)
Sabe aqueles livros que entram em sua lista de leituras pela curiosidade? Eu li O Safado do 105 (estou devendo a resenha dele, mas logo sai) e adorei o estilo de escrita da Mila, então foi meio lógico Diário de uma Cúmplice entrar na lista de desejados. Confesso que o fato de ter adorado a narrativa da Mila me deixou empolgada e esperando muito desse livro - e talvez foi aí que a coisa toda desandou.

Eu sou uma grande leitora de romances eróticos. Não tenho vergonha de dizer que é um estilo que eu curto e por isso acabo lendo muita coisa do gênero. Ao mesmo tempo, eu adoro séries policiais e acompanho várias delas, além de estar embarcando aos poucos nas leituras de livros do gênero. Então, quando vi que a sinopse do livro era um tipo de misto de policial com romance erótico isso foi o bastante para chamar minha atenção.
"Talvez a solidão seja o fruto de uma semente que eu mesma plantei. Talvez eu afaste  propositalmente as pessoas, concentrada demais em apenas respirar e agir mecanicamente, com medo, com medo de ser taxada como louca ou perturbada." (pág. 12)
Para tudo ficar ainda melhor, o início do livro me fez entender muito bem a Christine. Ela é professora em uma escola infantil e leva a sua vida de maneira super normal. Nada de interessante acontece em seu dia a dia e eu me identifiquei muito com ela e sua maneira de se fechar, de não querer que as pessoas ao ser redor percebam o quanto ela se sente sozinha e tal. Eu fui fisgada pela personagem e não consigo entender como é que de repente, tudo foi se perdendo a cada página.

Acontece que, embora eu tenha gostado da leitura, para mim faltou algo - e nem o romance e nem o lado policial conseguiram me convencer completamente. Sabe quando o romance é tão rápido que não te faz acreditar realmente no 'estou apaixonada por você'? E quando você pensa em uma grande quadrilha você espera um pouco mais de motivos para realmente ter esse nome, mas a narrativa não te dá fatos e nem tempo suficiente para acreditar nisso. Eu sei que parece que estou sendo chata e me apegando a detalhes, mas eles fazem realmente uma grande diferença. 
"Para mim, ele sempre seria perfeito. Não me importava o que fazia. Não me importava quem era. Pensei que o tinha salvado, mas foi ele quem me salvou de uma vida sem emoção, sem sentimentos, sem adrenalina, sem nada. Eu estava morta e não sabia." (pág. 175)
Não sei se o problema é que o livro é curto demais ou se ele tem coisas demais sem se focar realmente em uma. Ele tem pouco mais de 300 páginas mas acontece tanta coisa que parece que não aconteceu muito realmente. Primeiro, não dá para entender direito a Christine e sua síndrome de Estocolmo sem motivo. Ela acabou de conhecer o cara e só porque ele é bonito ela resolve esconder e defender ele - mesmo depois de ele ter ameaçado sua vida com uma arma. Ela não foi sequestrada, ela não ficou em cativeiro, ela não passou por nada mais do que um tiroteio com a policia onde ela serviu de escudo por um momento e no minuto em que ela pode se ver livre de tudo, ela resolve ajudar o cara a se esconder.

E no minuto seguinte, onde eles ficam sozinhos pela primeira vez, ela não pensa em se salvar, em fugir de um cara que a usou como escudo - ainda mais que ele está ferido. Ela só pensa em o quanto ele é bonito e que precisa ajudá-lo pois ela o conhece. Sim, ela sabe que ele tem algo a mais, isso em apenas poucos minutos. E se você acha que esse envolvimento foi rápido, espere que tem mais. Ela resolve largar toda a sua vida para seguir junto com o cara que ela acabou de conhecer porque um cara tão bonito assim até pode ser um bandido, mas ele não pode ser tão perigoso assim pois se fosse ela saberia, ela sentiria. Aham... E assim, lá se foi toda a minha conexão com a personagem, porque vamos combinar que quem vê cara, não vê coração.
"Meu maior erro foi ter confiado demais em mim mesma. De uma maneira cega. Não soube respeitar os meus limites. Não acreditei quando as coisas saíram do controle." (pág. 209)
Depois disso, não consegui me convencer com o Miguel. Até mesmo porque o livro é todo do ponto de vista da Chris e ela está cega. Tão cega a ponto de descobrir que o cara por quem ela largou tudo é é comprometido e leva um tempão para contar isso para ela - e mais ainda para explicar porque ele não pode trocar a namorada pela Chris. Aí é outro ponto que levanta algumas questões pessoais para mim... Eu não curto muito essa coisa de não posso deixar dela por causa disso ou daquilo e a mocinha achar que tudo bem ficar com o cara quando a namorada não está na mesma casa. E mesmo as cenas entre os dois sendo muito quentes - e a Mila escreve essas partes muito bem na minha opinião - tinha sempre a sombra de 'ela pode chegar a qualquer momento' e isso quebra e muito o clima para mim.
"A vida sempre tem o dom de nos impressionar e, de repente, o que achávamos ser certo não nos faz feliz como gostaríamos. Então chega um momento em que o errado nos chama atenção, atraindo-nos e nos derrubando em um abismo. Nossa vida vira pelo avesso. Ela muda tanto, e tão de repente, que demora um pouco para descobrirmos que o avesso é o nosso lado certo." (pág. 228)
E eu nem vou falar das partes do toque policial da história... Porque, embora uma quadrilha que vive de assaltos, manipulações e coisas do tipo é muita coisa que acontece e em momento nenhum a polícia chega perto. E se a quadrilha é tão famosa assim, como é que a professora com a vida super normal é que tem as ideias mais básicas para algumas saídas? E como pode alguém que nunca se envolveu em crimes achar que tudo bem entrar nessa vida e acreditar que ninguém iria levar um tiro, ou então que o grupo que ela conheceu por ser 'gente interessante e legal' não vai matar ninguém... Por favor Christine... Estamos falando de pessoas que desrespeitam a lei...

No geral, Diário de uma Cúmplice é interessante, mas não conseguiu realmente me ganhar. Para mim, faltou alguma coisa e isso fez com que eu me decepcionasse um pouco com a leitura. Eu sou daquele tipo que bandido é bandido (e o Victor - de A Morte de Sarai - está aí para provar que podemos 'amar um assassino') então senti falta de acreditar que a quadrilha estava mesmo para o crime. Outro ponto é que a narrativa em forma de um diário - e que em muitos momentos parece que não estamos mais lendo um diário - me incomodou enquanto lia. Ao mesmo tempo, como comentei ali em cima, é inegável a qualidade da Mila para escrever as cenas quentes - menina, uau!!!! - e, como gosto do estilo ficava esperando pelo próximo momento do casal (sim, me julguem!!!). Então, se você procura um romance picante para se distrair, e não quer ficar analisando muito cada detalhe como eu fiz, acredito que o livro é uma ótima dica. Mesmo com todas as minhas ressalvas, ainda quero ler mais livros da Mila!

Romântica incurável com um toque de Drama Queen. Sonhadora, teimosa e viciada em livros, afinal, se você não pode cair no mundo, viva através dos personagens! Criadora do blog Amores e Livros, ainda acredita que um dia será paga para ler! Facebook / Twitter / Instagram

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16 comentários

  1. Esse é o único livro da Mila que eu ainda não li... E agora lendo a resenha fiquei com um pezinho atrás. Sei bem da qualidade dela escrevendo as cenas mais quentes e juro que a sinopse do livro me chamou a atenção. Não gosto de romances rapidos demais... Sei la. Mas acho que ainda vou dar uma chance ao livro, afinal, sou fã da Mila (ela me ganhou com o despedida e o Caleb lindo) e acho que mesmo ainda deve ser uma leitura um tanto quanto agradávl. Adorei a resenha e estava com saudade das postagens.

    Beijos e ate a proxima

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  2. Embora ainda não conheça nada da autora e esse livro após sua resenha acabo com minha vontade de lê-lo, não descarto procurar os outros livro dela para ler. Tinha gostado da resenha, mas conforme foi explicando o livro acho que eu teria a mesma opinião que você sobre ele e acabaria não gostando (pq até agora to sem entender como ela foi capaz de proteger ele assim do nada, tipo oi?!). Adorei a dica sobre essa autora, mas esse livro com certeza não entrou para minha lista. Ótima resenha, beijos

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  3. Assim, como você, eu gosto muito de romance erótico, mas o que tem me incomodado no gênero, é que quase nada está sendo bem desenvolvido. E acho que foi exatamente o caso desse livro, infelizmente. É realmente chato quando uma história não nos prende o suficiente, não é? Mais ainda quando já conhecemos a escrita do autor. Vou estar esperando pela resenha que você está devendo.
    Um abraço!

    http://paragrafosetravessoes.blogspot.com.br/

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  4. Oi Lica,
    Ainda não tive a oportunidade de conhecer a escrita da Mila Wander, mas vou acabar escolhendo outro livro para começar, pois não gostei nenhum pouco do enredo dessa história. Que absurdo! Essa “mocinha” achou normal agir desse modo, simplesmente largar tudo e se envolver com a quadrilha só porque o cara é bonitão? Não colou essa história, achei muito exagerado e nada aceitável. Para não me decepcionar, não pretendo ler esse livro.
    Beijos

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  5. Oi,
    Gostei da resenha, ainda não li nenhum livro da Mila, e que pena que esse livro não te agradou tanto como o esperado, tenho fugido do gênero, e pelo visto tudo acontece muito rápido, não pretendo ler o livro.
    Beijos *-*

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  6. Oi!
    Cara amei muito a sua resenha, sério foi muito boa. Ainda não tinha lido nenhum livro dessa autora e apesar de gostar muito de romances eróticos não sei se leiria esse livro. Não gosto de livro onde a mocinha é muito passiva e traição não rola pra mim.
    Parabéns pela resenha e beijos!!!

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  7. Da Mila Wander li O safado do 105, e me apaixonei pelo Calvin. Em relação ao Diário de uma cúmplice o enredo é bacana, mas meio irreal, curti a capa. Vou anotar a dica para uma leitura futura, já que segundo a autora, haverá continuação.
    Beijos

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  8. Lica!
    Adoro romances eróticos também e o que me deixou ainda mais interessada foi em saber que a protagonista é professora infantil. Como será que ela vai lidar com isso?
    “A sabedoria só nos chega quando não precisamos mais dela.” (Che Guevara)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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  9. Olá.
    Ainda não li nada da autora, portanto não conheço a escrita dela. Mas lendo sua ótima resenha, não me senti motivada para fazer a leitura desse livro. Definitivamente a premissa não me conquistou, então, passo a dica. Obrigada. Beijos.

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  10. Gostei da resenha e não conhecia o livro. Como não sou muito fã de romantes eróticos, normalmente não leio as resenhas de livros assim.

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  11. Já vi mais de uma resenha desse livro e aparentemente ninguém gostou. Não tenho nenhuma vontade de lê-lo, me parece completamente sem sentido o que acontece com a protagonista e o que ela resolve fazer.

    Abraços :)

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  12. Ainda não li nenhum livro da autora, mas quero muito ler o Safado do 105 deve ser muito bom. Parece que essa professora é muito carente, aparece um bandido e já leva pra casa sem nem analisar as consequências e o risco que corre rs. E mesmo comprometido ainda fica com ele ela deve estar tendo uma vida muito tediosa. Gosto quando o romance acontece aos poucos não esse vapt vupt.

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  13. Nunca li nenhum livro erótico e pela sua resenha, talvez este nao seja o livro ideal para começar... achei a capa super instigante!

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  14. Já disse que tenho ódio e amor por você? Senão disse estou dizendo agora. Porque além do livro me chamar atenção,a sua resenha está perfeita,só digo: quero. Parabéns mais uma vez,você escreve muito bem e sempre me deixa com vontade de comprar os livros(lembrando que sou pobre,tenha dó de mim). :D xD

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  15. Não costumo me envolver muito com leituras desse gênero, porém desde do lançamento desse livro que tenho curiosidade em lê-lo. A história me pareceu ser um pouco irreal, e foge de tudo que estamos acostumados a ver, e por isso quero saber qual vai ser o desenrolar dessa trama, espero não me decepcionar.

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  16. Então, li o livro, gostei muito, e o q eu quero saber se tem o 2 livro do diário de uma cúmplice, pq tem a continuação do livro e estou querendo saber p comprar, alguém pode me ajudar nessa informação?

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